terça-feira, 12 de julho de 2011

Talvez se me guardarem no frigorífico

Está-se a tornar difícil não me transformar num poeta azedo. O ano vai ficando mais desabrigado. Passou certamente o tempo da viola. Não cantarei as Índias mentirosas. Vou fazendo planos para nascer outra vez.  
Talvez sigam cartas explicando como a guerra começa.  

Animais de fogo


Um dia
o homem é posto à prova, interrogado
pelas areias moventes;
desaba sobre ele a tempestade
que o quer afogar.
Cautela com os animais de fogo!


Passou o tempo da viola.
Também não aceito cantar as Índias
mentirosas. Segue carta
explicando como a paz começa.



Há sempre um barco para embarcar,
um pé de videira para a sede.
No ano mais desabrigado da minha vida
não posso deixar que a tristeza
sujeite estes versos. Não quero deixar.


Eu estou quase a nascer outra vez
após alguns tropeços e febres malignas,
estou na margem florida do meu continente.


Não posso, não quero, não me vou deixar
transformar num poeta azedo.


Fernando Assis Pacheco

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