quinta-feira, 1 de março de 2012

O fim da festa



Imagine o leitor o salão de festas da paróquia ou o gimnodesportivo da freguesia, numa dessas noites animadas em que há qualquer coisa a celebrar. Canta-se e dança-se ao som de uma música que é mais ritmo do que melodia, bebe-se e come-se, acordam-se os vizinhos e lançam-se todos os foguetes. E no final, quando a música acaba e os convivas começam a desaparecer furtivamente, uns quantos ficam para o fim, a fazer contas e a esvaziar garrafas.
De manhã, o pessoal da limpeza depara-se com os despojos da noite, uns quantos corpos inertes, casas de banho inundadas e um inconfundível aroma a fim de festa. Nada a que não estivessem habituados, não fosse o facto de lhes ter sido também deixada a factura, que só encontram uma vez completa a limpeza, com todas as despesas e uma nota pessoal a lamentar o facto de a festa ter chegado ao fim. É necessário, explica-se, que todos assumam agora as suas responsabilidades.
Relembram então o sorriso enigmático e o olhar comprometido nos rostos dos últimos convivas. Os mesmos que lhes haviam garantido que era necessário que alguns se divertissem à vontade para que os outros tivessem o que limpar. Que juraram que aqueles que limpassem melhor poderiam um dia vir a ser convidados ou até vir a ter a sua própria festa.
Foi por isso com inevitável tranquilidade que os últimos foliões apagaram a luz antes de sair. Algures noutros lados, novas festas os aguardam. E os mesmos do costume continuarão a levar baile. Até que a música seja outra, para eles restará sempre o fim da festa.
Artigo do iOnline.

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