segunda-feira, 7 de maio de 2012

Subversivos promotores e publicitários radicais


 Vivemos tempos interessantes e uma pequena faísca basta para incendiar multidões. Quis o destino e uma profunda ausência de escrúpulos que, em pleno dia do trabalhador, o Departamento de Promoções do Pingo Doce se lembrasse de homenagear à sua maneira os operários mortos em Chicago, em 1886. O resto é o que se sabe: prateleiras esvaziadas num ápice, desacatos, confrontos, lojas fechadas, ruas cortadas e a intervenção da polícia. Passos Coelho, que prometeu mão pesada sobre quem promovesse tumultos através das redes sociais, sabe agora com o que está a lidar – subversivos promotores e publicitários radicais, que atiçam as massas e perturbam a ordem pública.
Não faltaram comentadores dispostos a garantir que se tratou de uma vitória simbólica do consumismo sobre a identidade de classe. Falta contudo algum fôlego a semelhante semiótica. Contra as sedutoras imagens veiculadas nos anúncios das grandes superfícies, onde a aquisição de mercadorias suscita sorrisos de despreocupado deleite e um brilhozinho nos olhos, vimos agora o pânico na cara de gerentes de loja, a raiva de quem perdeu um dia da sua vida para encher um carrinho de compras e a eminência de um total descontrolo da situação. Não terão sido poucos os clientes que imaginaram a possibilidade de desenvolver no futuro o espírito da promoção e obter um desconto de 100%.
Algo que não tirará o sono a Alexandre Soares dos Santos, reputado e abastado patriota, que conta com a autoridade do Estado para desencorajar tão criativa interpretação do seu marketing. É precisamente para isso que a Jerónimo Martins paga os seus impostos. Na Holanda.

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